“Quando uma forma cria beleza tem na beleza sua própria justificativa.” – Oscar Niemeyer, mas será mesmo...?
- Thulio Castro
- 28 de abr.
- 4 min de leitura

Será que o mestre da arquitetura estava certo? Ou será a beleza algo relativo?
Se me perguntarem isso, confesso que vou tender a dizer que sim, a beleza é algo relativo, e tem tudo a ver com aquilo que um indivíduo ou até mesmo uma sociedade valoriza — ainda que existam controvérsias. O que para muitos já foi considerado belo, hoje pode não ser mais. Mas afinal, o que é o belo? Por que para alguns o que é a mais pura expressão da beleza, para outros é insignificante ou até mesmo feio?
Neste post vamos explorar, sem a pretensão de esgotar o tema ou trazer verdades absolutas, uma visão mais aprofundada do que pode ser considerado belo.
Fazendo uma rápida busca no Google, nos deparamos com uma definição genérica: “beleza é tudo aquilo que traz harmonia e agrado no campo físico ou até metafísico”. Este é o resumo da história. Mas diante dessa afirmativa, percebemos que o conceito de belo é, no mínimo, personalizado.
Veja: nos dias de hoje, a mulher bonita é, segundo os padrões vigentes, aquela que tem uma silhueta magra, fina, mas com linhas corporais bem delineadas — busto, quadril, cintura marcada. Quando falamos de rosto, a subjetividade cresce: há quem prefira traços mais morenos, há quem admire as ruivas; rostos arredondados ou rostos angulosos. Já começou a complicar. E para completar, existem sociedades e culturas que valorizam corpos mais cheios, roliços, como as sociedades europeias na época do Renascimento, ou em algumas culturas da África subsaariana.

Ou seja, já podemos cravar: a beleza não é absoluta, nem homogênea.
No nosso mundo atual, especificamente no Brasil, observamos uma grande admiração por estilos musicais como funk, trap, rap, hip-hop, sertanejo, e gêneros pop de difícil classificação, como os de artistas do calibre de Anitta, por exemplo. Agora, imagine se essas músicas fossem tocadas em pleno século XVII até meados do século XIX, quando os ícones da música clássica emergiam — Chopin, Beethoven, Bach, entre outros. Essas músicas de hoje seriam repudiadas, tachadas de horrorosas e grosseiras.

Curiosamente, hoje, dentro do próprio Brasil, a música erudita — que outrora representou o auge da sofisticação — é vista por muitos como triste, chata ou "coisa de velho". Mais uma vez, fica claro: a beleza é um reflexo da identidade cultural, artística, social e de outros valores da sociedade.
Nem sempre o belo é virtuoso, mas quase sempre o feio — o horroroso, o tosco, o indecoroso — é uma mácula. Lembre-se: citei que, em certos períodos históricos, corpos femininos mais “cheinhos” eram considerados o ápice da beleza. Por quê? Porque o fim da Idade Média foi marcado pela fome e pela escassez. Ter um corpo mais volumoso era sinal de riqueza e status.
Hoje, o cenário mudou: entende-se que um corpo com excesso de gordura pode indicar doenças, hábitos pouco saudáveis, consumo de alimentos industrializados ou até disfunções hormonais. É um exemplo claro de como o significado do "belo" pode mudar radicalmente com o contexto social.
Retomando a música, é preciso dizer verdades desagradáveis para alguns: a beleza que alguns enxergam em letras que exaltam o crime, a vulgarização do corpo, e que são acompanhadas de batidas que mais parecem um descompasso cardíaco, só são vistas como belas porque a frequência mental e energética dessas pessoas sintoniza nesse padrão.
O que é harmonia para uns, é dissonância para outros. Então, afinal: o que é beleza?

Sempre procuro na natureza as respostas às minhas maiores dúvidas — pois é na natureza que encontro, silenciosamente, as palavras de Deus. Exemplifico: a natureza exuberante me parece bela, e é bela, porque nela observamos um equilíbrio autêntico, uma harmonia espontânea entre os elementos.
Os sons dos pássaros, muitas vezes, são mais encantadores do que qualquer batida rude da música popular. As águas correntes de um riacho ou de uma cachoeira, mesmo que por vezes rugem em potência, são ainda assim harmônicas e ordenadas, ao contrário dos ritmos artificiais e ruidosos do momento. É no rugido agressivo do leão que vemos respeito e majestade — e não nos "hinos" de facções criminosas, entoados em letras que celebram a degradação humana. Assim, vemos que a beleza cultural, muitas vezes, pode ser antagônica à beleza natural — à beleza real.

Dito tudo isso, podemos perceber que a beleza, embora moldada por culturas e épocas, ainda carrega em sua essência uma dimensão que transcende o gosto pessoal ou as modas passageiras. Existe uma beleza que é fabricada — adaptada aos anseios e valores de uma sociedade —, mas existe também uma beleza intrínseca, que não precisa de validação social, pois ecoa uma ordem natural, harmônica e atemporal.
No paisagismo, essa diferença entre a beleza autêntica e a beleza fabricada também se manifesta. Jardins que respeitam as condições naturais do solo, do clima e da vegetação local tendem a ser mais belos, mais saudáveis e mais duradouros do que aqueles que tentam impor um modelo artificial, deslocado da realidade ambiental. Um jardim que floresce em sintonia com sua terra revela uma beleza profunda, enraizada na verdade do lugar. Já aqueles projetos excessivamente estéticos, que sacrificam a saúde das plantas em nome da aparência, podem até encantar por um momento — mas logo revelam a fragilidade e o vazio de uma beleza construída apenas para impressionar.
Portanto, se por um lado podemos concordar com Niemeyer que uma forma bela encontra na própria beleza sua justificativa, por outro, precisamos perguntar: bela para quem?No jogo da estética criada pelo homem, a beleza é frequentemente distorcida pelos desejos, vícios e ideologias de cada época. Já na natureza — essa sim, obra-prima do Criador — a beleza não pede aplauso, não se ajusta a tendências, nem se submete a caprichos: ela simplesmente é.
Diante disso, talvez a verdadeira beleza, aquela que não se corrompe, seja aquela que reflete ordem, harmonia e virtude — e não apenas o capricho de gostos momentâneos ou de sociedades adoecidas. A beleza, portanto, não é um produto que vendem nas vitrines da cultura popular, mas uma verdade silenciosa que nos chama à contemplação, e não ao consumo.
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