A paixão intelectual extingue a sensualidade?
- Thulio Castro
- 10 de mai.
- 3 min de leitura
Entre Da Vinci, o desejo e o intelecto: uma reflexão sobre o lugar do sexo na mente dos sábios

Lancei essa provocação no Threads e, como esperado, gerou um burburinho: "A paixão intelectual extingue a sensualidade." A frase é atribuída a ninguém menos que Leonardo Da Vinci — o artista, cientista, engenheiro, inventor, anatomista e uma das mentes mais brilhantes da história.
Mas o que exatamente ele quis dizer com isso? Será que todo intelectual é um incel? E toda pessoa erotizada é, necessariamente, ignorante?
Neste artigo, convido o próprio Da Vinci a nos acompanhar em uma reflexão sobre os caminhos entre o desejo erótico e a busca pelo saber — duas potências humanas, mas nem sempre conciliáveis.
Entre o sexo e o saber
Leonardo viveu entre os séculos XV e XVI, um tempo em que o corpo ainda era vigiado pela moral cristã, mas a mente começava a se libertar no Renascimento. Mesmo assim, sua afirmação ressoa ainda hoje: há uma tensão entre a paixão intelectual e a sensualidade.
Quem se dedica profundamente ao pensamento parece, muitas vezes, se afastar daquilo que é mais carnal. Não se trata apenas de repressão moral, mas de foco psíquico.
A psicanálise nos ajuda aqui: segundo Freud, o desejo sexual (libido) é a energia que move o psiquismo humano — mas ele pode ser sublimado. Ou seja: canalizado para atividades criativas, intelectuais, artísticas.
O indivíduo altamente concentrado em construir uma teoria, resolver um problema ou criar uma obra de arte, pode desviar momentaneamente sua energia sexual para outros fins — não porque o desejo desaparece, mas porque é transmutado.
A vulgarização do sexo como distração
No outro extremo, notamos na sociedade atual uma erotização exacerbada e vulgarizada — especialmente em ambientes de menor acesso à formação crítica. Isso não significa que pessoas menos letradas são mais sexuais, mas que o erotismo, nestes contextos, é muitas vezes a única forma de expressão intensa que resta.
O intelectual, por sua vez, não é menos sexual — mas talvez seja menos tomado por uma lógica puramente hedonista. Como se dissesse: "Há mais prazer no descobrimento que no gozo."
Esse tipo de sublimação não é antinatural. Filósofos como Schopenhauer, por exemplo, acreditavam que o impulso sexual é um dos principais motores da vontade humana, mas também uma fonte de sofrimento. Assim, o domínio sobre os próprios impulsos era, para ele, sinal de elevação espiritual.
Intelectuais são incels?
O termo incel ("involuntary celibate" – celibatário involuntário), cunhado nos anos 1990, ganhou contornos perigosos com o passar do tempo, sendo associado a comunidades misóginas na internet. Mas a ideia de que um intelectual é incapaz de viver sua sexualidade é, além de reducionista, falsa.
Ao contrário: muitos gênios da história foram intensamente eróticos, ainda que discretos ou não conformes às normas. O próprio Da Vinci, segundo estudiosos, teve uma vida sexual homoafetiva, com episódios de repressão e liberdade. Freud chegou a escrever um ensaio sobre sua sexualidade, sugerindo que ele sublimava desejos em suas obras.
A mente também é erótica
No fim das contas, talvez a questão não seja sobre o apagamento da sensualidade pelo intelecto — mas sobre uma nova forma de sensualidade: a da mente.
A erotização do pensamento, o prazer da descoberta, o êxtase de uma conexão mental profunda... tudo isso também é sexo, no sentido mais ampliado do termo.
Como escreveu Clarice Lispector: "O que me seduz não é o toque, mas o pensamento."
Conclusão: Entre o instinto e o intelecto
Sexo é uma das forças mais primitivas e poderosas da espécie humana. Nenhum sábio está imune ao seu chamado. Mas a forma como nos relacionamos com ele pode dizer muito sobre quem somos.
A paixão intelectual não extingue a sensualidade — ela a transforma.
Talvez, mais do que escolher entre uma e outra, o desafio seja integrar as duas em uma mesma existência. E você, o que pensa sobre isso? A mente e o corpo são aliados ou inimigos na sua jornada?
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