Cansados, mas resilientes: um desabafo da Geração Y à beira do jardim
- Thulio Castro
- 15 de mai.
- 3 min de leitura
Nos últimos tempos, tenho me sentido esgotado. A vida contemporânea exige demais. Tudo é urgente, tudo demanda energia, escolhas, decisões que deveriam ser pensadas com calma, mas que, muitas vezes, precisam ser tomadas na correria do cotidiano. E nem sei se sempre será assim. Mas tenho me esforçado para que não continue sendo. Hoje quero falar sobre stress e esgotamento — mental e físico. Afinal, corpo são deveria ser sinônimo de mente sã. Ou, pelo menos, deveria ser.

Recentemente, compartilhei um pouco da minha rotina, que começa antes das 7 da manhã e vai até quando simplesmente não aguento mais. Muitos veem como um privilégio morar no local de trabalho. Mas, na prática, o que separa o descanso do dever é, muitas vezes, apenas uma porta. E isso não é só sobre mim. É algo que se espalha como padrão entre as pessoas da chamada Geração Y, os millenials. Nós, que temos entre 38 e “quarenta e muitos” anos, fomos educados numa promessa que se dissolveu: a de que o diploma universitário seria a chave da estabilidade.

Crescemos ouvindo que estudar era o caminho, que bastava se formar para ter um bom emprego, uma casa própria, uma vida confortável. Mas a realidade não entregou o que o discurso prometeu.
Enquanto nossos pais — os boomers — conquistaram segurança profissional com um diploma ou um concurso público pouco concorrido, nós herdamos uma nova lógica de mundo. O diploma já não basta, os concursos se tornaram verdadeiras guerras, e sequer conseguimos sonhar com o tal “terreno de brinde no bingo”. Hoje, um salário comum não dá conta sequer de manter o básico — quem dirá sonhar com propriedade, estabilidade ou aposentadoria tranquila.

E nesse cenário, viver cansa. Cansa profundamente. É por isso que muitos de nós evitam sair, encontrar gente, festejar. Não porque não gostamos, mas porque estamos, sinceramente, exaustos. Tudo custa caro, tudo exige energia, e parece que nunca podemos parar. Sempre temos que estar produzindo. Porque parar, para muitos de nós, parece sinônimo de fracasso iminente.
Mas, apesar de tudo isso, encontrei uma forma de manter a sanidade: cultivando meu próprio jardim. Meu refúgio. O espaço externo da minha casa se transformou em um lugar de respiro. É ali que vejo as plantas, os pássaros, o beija-flor, a borboleta, a garça... até uma iguana e uma cobra vez ou outra. Ontem mesmo, uma sucuri que tive que espantar de volta para o córrego. A natureza não pergunta, não exige, não cobra. Ela só está.

E tudo isso me bateu com mais força justamente ontem, no meio de um dia de trabalho. Precisei, pessoalmente, cuidar de um bonsai para entregar a um cliente. Algo simples, que normalmente delegaria, mas que, por envolver um toque mais delicado, ficou comigo. E ali, entre tesouras e raízes, ouvindo o som da minha cascata com carpas e cercado pelo jardim vertical, senti alívio.
Porque, apesar de amar o que faço, nem tudo no meu trabalho é amável. Lidar com gente agressiva, intolerante ou raivosa pode sugar nossa energia mais do que qualquer tarefa física. Mas o momento com o bonsai foi um lembrete: ainda há beleza no meio do caos. Ainda existe paz, mesmo que por instantes.

No fim das contas, precisamos aprender — ou reaprender — a parar. A descansar. A fazer nada. Sim, “fazer nada” também é produtivo. Foi no ócio que muitos dos grandes pensadores da humanidade encontraram respostas que moldaram o mundo. Não estou aqui para bancar o sábio, o coach ou o guru. Longe disso. Esse texto começou como um desabafo, e assim ele deve seguir.
Só quero te lembrar que não é só você que está cansado. E que, mesmo nesse cansaço, há algo que pode florescer. Que você também pode construir o jardim da sua vida. Da sua alma. Do seu coração.
Omnia vincit.(O amor — ou, talvez, a persistência — vence tudo.)
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