O Paradoxo da Vida Rural x Urbana: Morar no Mato é se Isolar? Viver na Cidade é Sinônimo de Socializar?
- Thulio Castro
- 8 de mai.
- 4 min de leitura
Começo este artigo com uma reflexão que desafia ideias preconcebidas: será que buscar uma vida mais rural, em meio a sítios, chácaras ou fazendas, é sinônimo de isolamento e reclusão? E será que a vida urbana garante, por si só, um envolvimento social mais profundo?

Recentemente, li um artigo de Raul Juste Lores, renomado arquiteto brasileiro, intitulado "Os subúrbios 'Alabama' se alastram pelo Brasil, e tem gente que se orgulha…" . O que me chamou a atenção foi a ideia de que os condomínios com uma pegada mais suburbana trazem em si uma proposta de isolamento social. Observa-se a falta de relações sociais mais profundas, expressa nos vazios desses mega condomínios, algumas vezes até dentro da área urbana, mas isolados por muros. Neles, há quase tudo que uma família precisa em termos de lazer, moradia e vivência, mas é necessário sair do condomínio, atravessar a rua e andar alguns quarteirões para comprar pão, tomar um café e bater um papo com um desconhecido.

Posto isso, surge a controvérsia. Embora Raul Juste Lores e outros arquitetos e urbanistas preguem que a vida "aglutinada" das grandes cidades traz relações sociais genuínas, ou ao menos superficiais, vejo que essa premissa nem sempre se consolida. Sou filho da Amazônia, engenheiro florestal acostumado à vida rural, tendo morado em uma comunidade ribeirinha tradicional por um ano, além de ter desenvolvido inúmeros trabalhos nas zonas rurais e florestais. Também estou acostumado ao convívio social de uma cidade grande como a minha, Porto Velho, capital do estado de Rondônia, que tem mais de meio milhão de habitantes. Além disso, frequentemente viajo a centros urbanos de grande porte como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília, entre outros. Nesse contexto e experiência pessoal, observo contradições e posicionamentos, principalmente no artigo de Raul, onde se propõe a ideia de que a vida urbana é potencialmente rica socialmente, especialmente no convívio social.

Essa não é uma ideia recente e corro o risco de desafiar grandes mestres da filosofia clássica. Já no século VI a.C., filósofos como Teseu, Licurgo e Sólon influenciaram esse tipo de organização, entendendo que as pessoas que migravam para as cidades-estado eram esclarecidas.
Voltando à minha vivência e experiência em áreas rurais, julga-se que são comunidades mais isoladas, com pouco contato social, ainda mais considerando as distâncias entre habitações. Vale lembrar que no núcleo urbano encontramos alta densidade populacional e distância entre moradias de alguns passos, enquanto nas comunidades bucólicas as distâncias começam em dezenas, senão centenas ou até milhares de metros entre casas. Mas isso implica em afastamento social? Me parece que não.

Nesses ambientes mais "eremitas", que comportam toda sorte de classe social, desde o mais humilde até os grandes latifundiários, observo um convívio social mais forte, embora menos denso do que aquele apresentado na cidade. É muito mais fácil a troca de um "bom dia" entre vizinhos de sítios do que entre vizinhos de apartamento. Nessas comunidades, de acordo com minhas experiências e vivências, por mais que estejam distantes em termos de distância física, vemos um convívio social mais genuíno, mais humano e próximo. Diferente de quando me encontro em grandes centros urbanos, onde é possível nos sentirmos sozinhos, como já me senti por vezes, em meio a milhões de pessoas.

Este é o paradoxo social do rural x urbano, um dilema filosófico, ético, moral e que encontra desafios, necessitando de um entendimento mais profundo para que seja possível a criação de conglomerados urbanos que estimulem a conexão humana e, por que não, natural.
Referências Acadêmicas:
Um estudo publicado na revista Psicologia: Teoria e Prática destaca que a vida em comunidades rurais pode oferecer suporte social significativo, contribuindo para o bem-estar mental dos moradores .
Por outro lado, pesquisas sobre condomínios fechados indicam que esses espaços, embora ofereçam segurança, podem promover o isolamento social e a segregação socioespacial .
Conclusão:
A verdadeira conexão humana não se mede pela proximidade física, mas pela qualidade das relações estabelecidas. Enquanto o ambiente urbano oferece inúmeras oportunidades de interação, muitas vezes essas relações são superficiais e efêmeras. Já no meio rural, apesar das distâncias físicas, as relações tendem a ser mais profundas e significativas. Portanto, o desafio não está em escolher entre o campo ou a cidade, mas em cultivar relações humanas autênticas, independentemente do ambiente. Afinal, a essência da convivência está na empatia, na solidariedade e no respeito mútuo, valores que transcendem as fronteiras geográficas.

Texto: Thulio Santiago Castro Referências:
Lores, Raul Juste. Os subúrbios 'Alabama' se alastram pelo Brasil, e tem gente que se orgulha…. UOL Notícias, 3 jul. 2024. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/raul-juste-lores/2024/07/03/suburbio-americano-condominio-fechado-urbanismo-alabama.htm. Acesso em: mai. 2025.
Silva, T. M.; Ferreira, J. P. Suporte social e bem-estar psicológico em contextos rurais: um estudo com comunidades interioranas. Psicologia: Teoria e Prática, v. 22, n. 2, p. 98–114, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusf/a/S6v4tkB4rQQ4JmLCzgyPsKN. Acesso em: mai. 2025.
Santos, A. L.; Oliveira, R. B. A arquitetura dos condomínios fechados e o impacto na convivência urbana: entre o ideal de segurança e o risco do isolamento. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 8, p. 46731–46745, 2020. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/download/46731/pdf/116737. Acesso em: mai. 2025.
Data e local: Porto Velho RO, 08-05-2025
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